quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Adjetivar-se.


Seca como as folhas que caem do topo da árvore.
Chorosa igual a uma chuva passageira e forte de verão.
Azeda feito o leite amanhecido deixado fora da geladeira.

Amarga como o gosto da decepção.
Frustrante igual a uma expectativa não alcançada.
Desligada feito um botão onde basta relar para explodir.

Entediante como uma tarde de Domingo.
Perdida igual a um caminho sem direção, sem eira nem beira.
Dramática feito o teatro que nunca fiz e a comédia que nunca fui.

Ainda assim sou momentaneamente feliz quando ouço pássaros cantando livres antes de amanhecer, enquanto me prontifico para ir dormir. E quando deito me pergunto em que ponto tudo está errado, se o peso da culpa é somente meu ou se fui eu que virei do avesso e o mundo do inverso.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Fuga em pensamento é alento.



Para se ler ouvindo.

Existe o momento em que se percebe que mesmo sem escapatória, você não pertence a este lugar. Que a vastidão não invade você e que ainda há um mundo belo por trás do caos que se quer explorar, mas as condições são desfavoráveis demais e não permitem que você vá de um jeito livre, sem amarras. É como se este lugar - do qual não se sabe como viver, sugasse suas forças e em troca lhe desse apenas desesperança. Você quer viver, mas fica contendo-se porque tudo lá fora parece tão inóspito para arriscar sua frágil vida. Você se questiona e chega a conclusão de que não quer passar o resto da sua breve vida aqui, então você foge, nem que seja somente através dos seus pensamentos porque de momento é a única coisa que te mantém confortavelmente distante.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Comendo o ódio com amor.

Tenho dificuldade de tentar entender em qual momento devo parar. Ser menos impulsiva. Ainda vou ter que matar muitas das minhas vontades pra conseguir tal feito. Ainda vou ter que matar muitas das minhas saudades pro sentimento de falta me abandonar.
Nossas decisões sempre são uma parte do caminho que nós mesmos queremos guiar e mesmo que o destino bata na porta temos sempre a oportunidade da escolha e de mudar o rumo das coisas. É uma droga não se ter o controle de tudo e ao mesmo tempo isso torna tudo emocionante. Não é à toa que as coisas acontecem por acaso, mas já destinadas a acontecer. Acreditar naquilo que não se vê é quando se pode enxergar além, e não só no que está ao redor. É intocável, mas te atinge de qualquer maneira. O invisível vento sopra o topo da árvore, enquanto as formigas fazem seu árduo trabalho no chão, onde você pisa sem perceber. As situações ocorrendo por cima da sua cabeça, embaixo do seu nariz. Tudo tem vida com uma pitada de amor. Eu me vejo lamentando sem razão por tantos pequenos detalhes que perdi, chorando as pitangas encima do leite já derramado e no fundo me agradeço pela coragem de ter perdido a cabeça e seguido o coração. Confortando-me ao pensar que realmente valeu cada esforço na tentativa de encontrar o esperado e finalmente achar. Se eu não houvesse me arriscado, nada poderia reclamar, seria monótono não ter o que contar aos conhecidos as alegrias que vivi.
O trânsito com o atraso do ônibus, a pressa sob o balanço do trem, poluição e o cinza laranja-amarelado dos dias não me incomodavam enquanto eu estivesse preguiçosamente aonde queria exatamente estar. Até uma simples ida ao mercado, se tornava um grande evento. São nas pequenas coisas que sou apegada e que nada permita o rompimento. Parece inocência ou tolice minha por querer e ainda acreditar, mas só alguém descrente julga inexistente sendo fraco o suficiente para entregar de vez os pontos só porque o resultado não foi o aguardado como na expectativa. Eu que nunca me vi insistir tanto em algo, chega a estar fora do meu controle, porque a teimosia tem de servir pra alguma coisa. E cada pessoa que passa pela nossa vida contribui de alguma forma benéfica ou não, cabe a nós usufruir e extrair as experiências. Muita coisa irá mudar e soar como a mesma.
Vou ser mulher, decidida e talvez amadurecida o bastante. Com umas quedas emocionais pra não perder o costume, com firmeza sobre preferir Rolling Stones aos Beatles, frio o bastante pra me aquietar, calor o suficiente pra ir tomar cerveja, cortar o cabelo descontando cada vez que tiver uma frustração, admirar de longe um vinil que nunca será meu, aceitar. Ser natural ao parecer indiferente, ser diferente e parecer natural, arrancar coragem e telefonar embriagada pro número que ficou guardado por tanto tempo que amarelou e restabelecer a ligação, acordar com a sensação bastante parecida com a antiga feliz vivência da infância, parecer satisfeita mas nunca estar conformada, ou vice-versa. Aceitar por tempo indeterminado que a distância é só um fator que vai revitalizar e fortalecer os laços sem que ambos fiquem acomodados e nunca mais se encontrem.
E se não for pedir muito, encontrar minha paz de espírito vivendo de simplicidade.