quinta-feira, 12 de junho de 2014

Coração de mãe


Não ter você aqui é como se um vácuo se expandisse dentro de mim, trazendo junto a saudade que me preenche. O silêncio dos cômodos que não ecoam mais sua voz me traz a sensação de que cada canto desse lugar é um imenso deserto, pois a casa perde o valor sem o seu jeito empolgado. Carrego a lembrança de quando você chegava falando do quanto estava calor lá fora, do preço salgado dos produtos, até das suas reclamações e do caos com que costumava cozinhar eu sinto falta. Algumas peças das suas roupas ficaram, uma sapatilha sua que não serve em mim também, o cheiro do café tem outro gosto e a omelete já não tem o mesmo sabor porque o principal ingrediente era o prazer de compartilhá-la com você ao te acordar de madrugada oferecendo um pedaço. Uma metade era minha e a outra era sua, mas agora estou partida por não ter mais como dividir igual antes. Sei que o inevitável acontece cedo ou tarde, sei que o mundo soa uma chamada que não se pode ignorar, mas não tê-la mais por perto faz com que o meu caminho perca as cores dos fins de tarde, a intensidade da sua risada era o medidor da minha felicidade, quanto mais alta, mais feliz eu era. Meu consolo é saber que você tem outros cantos para enfeitar, recebo notícias suas e não consigo conter a satisfação em te ouvir contar como vai a acolhedora vida que leva hoje. Você se tornou mais uma dessas saudades que carrego, que se aconchegam no meu interior. Nunca me cansei de ouvir suas histórias pela milésima vez, mas quero pedir desculpas por todas as vezes que mal prestei atenção ao que você dizia por estar desligada do mundo. Aproveitei como pude, ainda que o meu peito doído diga que não foi suficiente. Naquele dia você olhava pra trás na nossa despedida e o meu sorriso ia se apagando com a sua ida, agora quero voltar a te ver abrindo o portão e soltando sua alegre voz. Te espero com imenso amor, mãe.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Consequências e resíduos


Aparece de repente, some sem avisar.
Foge da urgência, corre atrás da pressa.
Inspira efemeridades, suspira com o fim.
Corta o cabelo, deixa o sorriso crescer.
Engole a força, cospe fraqueza.
Sente culpa, condena ao perdão.
Sofre com a despedida, dilacera a saudade.
Observa a imensidão do céu, vê uma preenchida solidão.
Solta a mão, agarra a esperança.
Se entrega ao vento, abraça o Outono.
Recebe indiferença, troca por balões d'água.
Escuta o som do silêncio, ouve um barulho vazio.
Vive intensamente hoje, sobrevive amanhã.
Não se deixa molhar, se queima na dor.
Carrega o peso de existir, suporta amar.
Explode interiormente, joga a vida pelo ares.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Até algum dia, futuro


Sonhos desmanchados pela realidade, cortados pela metade, deixados pra depois. Vontades desfeitas, algumas guardadas, contidas. Caminho mal feito, rumo desvirtuado, sensação de deslocamento. Passos tortos, pés cansados, mente exausta e incansavelmente na Lua. Idealizações ofuscadas, utopias que são criadas nessa mente sonhadora. Planos evitados por conta do amanhã incerto, do imprevisível.
E se não fosse por tudo isso, como e onde eu estaria agora? Minha vida não passa de um amontoado de coisas acumuladas que estão numa espera para serem realizadas. Eu também estou esperando, ainda não me realizei. Não existem prazos, mas a medida que as horas, os dias e o meses passam eu sinto que já deveria ter cumprido algo. Podia jurar que tinha plantado o suficiente, para colher o que me daria forças para continuar. Os ponteiros do relógio correm e traz a impressão de que o atraso é companhia. Ando com a rapidez dos segundos nessa pista extensa, mas não consigo alcançar lugar algum, não tem espaço onde eu gostaria de estar, não pra alguém como eu, que se vê despreparada e dá pausas pra tomar uma dose de desgosto pelo desperdício. Sou eu que estou perdida ou é o tempo que é perdido? No despertar da dúvida e na falta de resposta, eu percebo que não fui feita pra viver com a pressão do mundo. Tudo o que quero está dentro de uma gaveta empoeirada, a poeira mostra o tamanho da paciência, e é certo que eu preciso agir antes que tudo isso vire pó. Tenho esperança. Espero mais de mim, mas tenho medo de acabar sendo a minha maior decepção. Se assim for, fracasso pela tentativa.
Às vezes parece tão tarde que eu só quero me sentar em uma cadeira de balanço, observando nuvens andarem levemente no céu, formando imagens que eu poderia rabiscar. Desenhar o que não fui.

sábado, 10 de agosto de 2013

Você vai. Eu vinho.

O gosto do que vivi com você permanece tão vivo quanto o sabor do vinho que tomei na noite passada, não me esqueci de nada que aconteceu entre os nós das nossas pernas nos lençóis. Estou roxa pela marca das lembranças que tenho, me bateu saudade, então me embriago porque isso é tão necessário quanto o ato de amar. Manchei um pedaço de tecido que já estava sujo como os pratos que me alimentei do seu amor, me lavei quando cai em prantos por não tê-lo presente, me entorpeci novamente e o que não tinha preço eu paguei com os únicos trocados que tinha em um bolso rasgado. Todas as vezes que te encontro em meus sonhos é como se eu revivesse o que tivemos, é como se a realidade fosse essa, como se eu não tivesse outra vida, e assim permaneço adormecida, sem vida com uma memória viva. Mesmo dormindo, ainda estou de pé. Faz tanto tempo que não o vejo fora dos meus devaneios, e cada vez que o nosso distanciamento acontece pela falta de tato, dói como se fosse uma despedida onde minha parte intocável se parte. Parece que você se foi e não vamos mais ser o que fomos, então bebo a saudade - mas não mato a sede, que você deixou desde a última despedida. Em um cálice, eu me calo.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fiz sem respirar.


Eu morro um pouco a cada ida
O dia de hoje não faz sentido
Uma de minhas partes com vida
Se foi sem levar de mim um pingo

As minhas esperanças são caras
Tenho calmarias passageiras
Dentro de mim só piso em brasas
E partes minhas já foram inteiras.

sábado, 18 de maio de 2013

Retalhos.


Faz mais de um ano e nem o cheiro, eu ainda choro. O toque ainda é sentido, daqueles dedos entrelaçados matando calorosamente a saudade, restou apenas a ansiedade que traz frio. Aquele último abraço foi ficando solto e frouxo, depois disso algo no ar dizia que não haveria mais direção, apesar do trem ter um rumo certo. Uma volta partida onde se retorna sem o coração, que foi deixado lá.
É de se pensar que nada se compara à dor da despedida e não se mede o sofrimento que virá com a distância. Ir com e voltar sem. As mãos soltas e livres não sabem onde se segurar, ver a queda delas depois de apontar o topo do céu e chegar ao fundo sem chão acaba sendo dolorido. Ver o quão frágeis somos diante do amor é de fazer qualquer um cair em prantos, ou adiar as lágrimas até que se compreenda isso. Ficar em pedaços é tê-los espalhados por aí, o restante são marcas e lembranças eternas enquanto você dura. Se esse conjunto de palavras não faz sentido hoje, pode fazer algum dia.
Nada se ajeitou, eu não tomei jeito. Cada dia foi visto e vivido com um pouco de esperança, que há pouco tempo reacendida. Gosto de pensar que é natural passar horas imaginando coisas quase utópicas e servir como distração de tudo. Acontece que eu sonhei com isso todos os dias e algo me disse que tal insistência se tornaria real por acreditar e então eu vi, juro que vi aquele abraço sendo dado novamente. Já faz tempo que espero e não tenho pressa alguma, pois (você) é algo que esperaria a minha vida toda.